DISPERSÃO DE ESFORÇOS DO
HOMEM
P. — O que pensa o
amigo sobre nós? Poderia apontar os nossos pontos fracos? Num jogo de cartas,
quem está fora sabe qual é o lance que deve ser feito, melhor que os que jogam.
E' claro que o seu julgamento seria isento de ânimo. Que devemos fazer no
sentido do progresso, para alcançar a felicidade?
R. — Você quer ser
feliz, e pensa que o progresso material é a palavra mágica que faz a rocha
brotar água. Não é a posse de bens ou de conhecimento que pode tornar o homem
feliz ou infeliz. Os animais não têm posse nem conhecimento, mas são felizes
como Deus os fez. O selvagem, no seu habitat, vive tranqüilo, não obstante sua
pobreza e ignorância. Provavelmente não trocaria o seu desconforto e falta de
conhecimento pela ilustradíssima casaca de um sábio que toma parte em simpósios
científicos.
A verdadeira felicidade
humana deve estar em compreender que Deus a reservou para um glorioso destino,
na submissão às leis do Criador, no sentimento de amor para com os
circunstantes. De que serve o homem ter tudo e tudo saber, dominar todas as
forças da natureza se não é capaz de
manter domínio no seu coração?
Muitos homens de ciência se ergueram no mundo, e
arrogantemente se sentiram superiores aos outro homens. Mas morreram, e Seus princípios foram depois mostrados que
eram inexatos. Deles ficou a lembrança de indivíduos que pensavam tudo saber,
mas que estavam enganados e que nem mesmo conheciam a si próprio.
Outros ficaram célebres pela posse de bens, materiais,
mas a morte destruiu ó seu império e no último instante sentiram-se
infelizes como ninguém vendo que viveram na ilusão. Com ciência e dinheiro
ninguém
morreu feliz.
morreu feliz.
Entretanto, os que revelaram a sabedoria através do amor
ainda perduram no coração humano, tendo expirado felizes e assim vivido. Maria
de Nazareth, Florence Nightingale, João o Evangelista, ainda estão vivos como
indivíduos veros, fazendo que a luz do seu amor ilumine a vida de muitos. Pode
ficar certo, que o santo terrestre Francisco de Assis está numa altura tão
elevada que o sábio que fez a bomba atômica jamais lhe pode tocar a planta dos
pés. E ele era ignorante...
Há homens de muitos bens na Terra. Todavia, a sua riqueza
não impede que um filho se torne homicida ou ladrão. Nesse caso a riqueza o fez feliz?... Esse homem rico manda o filho a uma universidade, e depois de
alguns anos ele volta ilustrado e com um título. Mas acaso um título faz do
indivíduo um homem de bem?
Quantos advogados há que são ladrões? Quantos médicos assassinos e quantos engenheiros
estelionatários? Quantos religiosos imorais?
Eu acredito que um pai sentir-se-ia feliz sem ter nada
para comer, tendo no filho um modelo de virtudes, que afundado em dinheiro ver
o filho preso como ladrão ou assassino.
P. — Eu sei que a elevação moral é superior a tudo. Mas
eu queria saber do nosso ponto de vista material, com exclusão da parte moral,
quais as falhas principais dos nossos
métodos, o que é capaz de entravar; o nosso futuro.
R. — Ninguém pode
excluir do progresso a questão moral. Mas já que você deseja conhecer os
efeitos e não a causa, vou apontá-los:
O mal humano é nunca saber andar sem estar com os olhos
voltados para o caminho percorrido. A conseqüência é petrificar-se numa estátua
de sal, como a mulher de Lot. Espírito conservador por excelência, o homem
prefere viver na saudade de um tempo que jamais pode voltar, do que na
esperança de um futuro radioso. Teme o dia seguinte, em vez de auxiliar o futuro
a preparar-lhe o caminho. Despende enormes esforços com o que não pode
ajudá-lo; gasta tempo precioso a cultuar inutilidades.
Por exemplo, gastam dinheiro, tempo do professor, tempo do aluno, despesas de instalações,
fosfato, para ensinar línguas mortas, que já deviam estar sepultadas.
Para ensinar coisas inúteis gastam papel, tinta, impressos, giz e mil outras
coisas que podiam ser mais bem aproveitadas. Porque, em vez de uma língua
extinta, não ensinam o processo da fotossíntese? Mais vale saber o que
significa uma gradiente potencial ou uma somatória de junções do
que conhecer todas as declinações de uma língua extinta. Mas em vez de desvendarem
o futuro que é grandioso, preferem viver entre as múmias da história,
desenterrando caveira para injetar-lhes vida fictícia.
Há uma infinidade de coisas que as crianças nunca ouviram
falar, e que possivelmente jamais ouvirão. No lugar de oratória, mostrem-lhes
como se cultivam as cebolas e os aipos. Ensinem-lhes que o milho, além de bom
alimento, usa-se o tronco e palhas para obter-se o furfural, a viscose, xilose,
ácido ascético, sabão, álcool, celulose, açúcar, placas, tecidos, combustível,
celulose alfa etc., e que nunca devemos enterrar o tronco e as palhas porque
não se prestam para Adubo e perpetuam no solo certas pragas.
Digam-lhes o que quer dizer potencial hidrogeniônico
do solo, como se corrige a acidez, quais as necessidades da terra em
nitrogênio, césio, cobalto, enxofre, manganês, fósforo. Mostrem-lhes que os hormônios
vegetais podem produzir folhas de couve com três metros de altura, maçãs com
vários quilos, tão tenras, como pêssegos. Ensinem-lhes que a luciferina, combinada
com hormônios vegetais e enzimas, faz que as flores produzam luz esverdeada
como lâmpadas elétricas, e que as rosas assim tratadas se tornam gigantes reluzentes.
As crianças podem se esquecer dos nomes dos grandes devastadores da humanidade, mas nunca
esquecerão que é possível transformar a luz solar, quase integralmente,
em energia utilizável, fazendo-a passar por um
gás carbono que se une à água, formando o aldeído fórmico; e que o
aldeído oxidado restitui a luz solar em forma de corrente elétrica.
Muito mais beleza existe no ponto de viragem da
química do que na matéria referente à destruição de Cartago
Milhões de indivíduos morrem de câncer, enquanto nas
escolas ensinam às crianças as cores das bandeiras
das nações, brutalizando o inato sentimento gregário do homem, que
desconhece, intuitivamente, às barreiras artificiais que o poder econômico
ergue no mundo. Em vez de decorarem a palavra China, que aprendam césio; em lugar de França,
Brasil, Estados Unidos, União Soviética, conheçam nitrogênio, fósforo, enxofre,
ferro. Ensinem que esses elementos, entre outros, produzem as proteínas, e
que estas, unidas a um núcleo de césio, formam o fator anticancerígeno que o
fígado normalmente compõe. Digam-lhes que essas
mesmas proteínas, unidas ao cobalto, são o fator anti-anêmico, conhecido
como vitamina B12. Em vez de tecerem loas ao poder
destrutivo de um invasor, mostrem-lhes que o hidrogênio pesado é um dos
principais responsáveis um elétron, tornando-o hidrogênio simples e
inofensivo. Deem-lhes estatísticas indicativas que demonstrem que o câncer
ataca mais as pessoas crianças ou velhas, que não têm ainda o poder viril ou que já o esgotaram, e que assim o sexo é uma arma de defesa orgânica e
os seus hormônios não devem ser desperdiçados por mera satisfação dos
instintos.
Ensine-se que em vez de bebidas, era preferível que se
tomasse extrato hepático com enzimas, porque estes elementos fazem o câncer
regredir.
Eu me admiro de uma humanidade que ainda não descobriu o
fator anti-tuberculoso, vá a uma escola decorar figuras de retórica e aprender
peroração. Isso devia constituir passa-tempo de quem não tem problemas mortais
que devastam milhões de pessoas. É o mesmo que um homem, que estivesse às
vascas da agonia, se postasse a estudar a métrica dos versos alexandrinos.
Mas tudo isso reunido ainda não constitui o maior pecado
humano. A dispersão de esforços atinge um grau impressionante. Eu não tenho
todos os elementos estatísticos do mundo, nem do seu país, mas podemos fazer um
cálculo aproximado: Há neste país cerca de 50.000.000 de criaturas. Desse
número, 30 milhões são constituídos de crianças ainda não produtivas; 10 milhões
são representados por mulheres, e só restam 10 milhões de homens.
Nesse número se incluem velhos aposentados e desocupados,
mendigos, tuberculosos, leprosos, loucos, aleijadas,
cegos, ladrões, penitenciários, desempregados, desajustados. Grande
parte se de diabos ramos especulativos, sem nada produzir, como atacadistas,
varejistas, empregados de balcão, corretores de imóveis e de títulos
advogados, banqueiros e bancários etc. Outra
parte se ocupa em atividades tais como policiais, exército, marinha, aeronáutica, magistrados e seus auxiliares, pessoal diplomático, funcionalismo público, etc. Restam apenas uns dois milhões de homens produtivos, que se dividem entre a agricultura e a indústria. Restaria ver se esse pessoal, que se dedica à agricultura, também é produtivo no bom sentido do termo, e se as indústrias são aquelas que realmente o país precisa. De qualquer maneira, porém, supondo que esses homens fossem produtivos, teríamos 2 milhões para 50 milhões, ou seja 1 homem trabalhando para 25 — o que é absurdo se considerarmos que esse indivíduo, que produz para 25, é o de menos recurso, sem máquinas que o auxiliem, sangrado, escorchado pelos que vivem do seu suor e que mantêm um elevado padrão de vida.
parte se ocupa em atividades tais como policiais, exército, marinha, aeronáutica, magistrados e seus auxiliares, pessoal diplomático, funcionalismo público, etc. Restam apenas uns dois milhões de homens produtivos, que se dividem entre a agricultura e a indústria. Restaria ver se esse pessoal, que se dedica à agricultura, também é produtivo no bom sentido do termo, e se as indústrias são aquelas que realmente o país precisa. De qualquer maneira, porém, supondo que esses homens fossem produtivos, teríamos 2 milhões para 50 milhões, ou seja 1 homem trabalhando para 25 — o que é absurdo se considerarmos que esse indivíduo, que produz para 25, é o de menos recurso, sem máquinas que o auxiliem, sangrado, escorchado pelos que vivem do seu suor e que mantêm um elevado padrão de vida.
Do número de 1 milhão que se dedica à vida do campo,
grande parte ainda prejudica a sociedade, pois produz fumo, maconha ou se
dedica à engorda de animais que destroem a terra ou vão depois intoxicar a
humanidade com a carne.
Dos que se dedicam à
indústria, podemos dizer outro tanto. As indústrias são boas, e as chaminés são
os pulmões que expelem o carbono do organismo social. Mas o esforço humano
nesse sentido é quase nulo.
Quando fazem fábricas, nem sempre é para solucionar os
problemas fundamentais. A grande maioria se dedica à fabricação de cosméticos,
jóias, inúteis cintos para mulheres, bolsas sem finalidade, chapéus que realçam
a vaidade, batons, esmalte de unhas, sapatos que fazem mal aos pés e atacam os
músculos do ventre, meias que não protegem, cigarro para envenenar o organismo,
chicletes de mascar, bolas de futebol, arma de caça e violência pessoal,
munições, material decorativo, molhos irritantes, bebidas alcoólicas etc.,
Quando há um sem número de outras coisas úteis e necessárias, que podiam ser
fabricadas em grande quantidade, como agasalhos em abundância, remédios,
neutralizantes de ervas, hormônios vegetais sintéticos, aparelhos para captar
energia, fogões eletrônicos, alimentos concentrados para socorrer populações
flageladas, livros de ciência e filosofia, sapatos plásticos, instrumentos
cirúrgicos e ortopédicos, adubos, plantadeiras e colhedeiras mecânicas,
neutralizantes de insetos, casas pré-fabricadas, móveis indestrutíveis,
melhores colchões, aparelhos de sondagem do solo, precipitadores de azoto e
etc, etc.
Mas façamos caso omisso de toda essa dispersão de
esforços e vejamos como vocês empregam o suor desses 2 milhões, que bem ou mal
fazem alguma coisa:
Suponho que a despesa do seu país orce, anualmente, pela
casa dos 65 bilhões de cruzeiros. Dessa importância, 45 bilhões são
gastos com as forças armadas, 15 bilhões são despendidos com o funcionalismo,
assembleias, juros da dívida pública, amortizações, banquetes despesas
governamentais, ministério do exterior, viagens protocolares, máquina eleitoral
etc.
Resta uma pequena parte que se dedica a bons fins, como a
educação, saúde e agricultura.
Imagine se todo esse potencial econômico fosse revertido na construção
de estradas, escolas, hospitais, igrejas, centros de pesquisas,
saneamento, indústrias novas, habitação,
agasalho, medicamentos, transporte... Calcule se toda essa imensa legião
de desocupados que se vê perambulando pelas ruas durante o dia passasse a ser
uma nova fonte de produção.
Toda a verba consumida pela República ainda não é tudo. E
as despesas estaduais? Já verificou todo o dinheiro gasto com o governo,
funcionalismo público, polícia? Quantos
policiais há só no seu estado? Fique certo que só despesa com os cavalos
mantidos para os desfiles daria para alimentar e agasalhar uma multidão de
famintos que perambulam pelas ruas sob o sereno e a chuva. E parece irônico que
numa sociedade cujos membros sofrem fome e frio, vivam cavalos com rações
balanceadas, cobertos com boas mantas de lã. .
Necessário a polícia? Sim, necessário. É a necessidade
do estado policiado que falava Rousseau. Mas se o é foi porque os homens a
fizeram imprescindível. Se um povo gasta o seu suor com coisas más, da sua
leviandade vem a miséria, o roubo e o assassinato. Houvesse abundância, e
ninguém pensaria em matar ou roubar. No fundo de toda a exaltação dos instintos
humanos está o dinheiro, porque através dele vêm os recalques, a ganância, a
voracidade dos lucros, a falta de misericórdia. Se há o roubo, não é porque o
ladrão tenha amor ao crime, a não ser exceções, mas porque sente-se roubado
pela sociedade que lhe arrebatou o direito de ter a sua casa, poder plantar sem
pagar aluguel a ninguém e gozar amplamente da liberdade que a natureza nunca
regateou.
Devido ao sistema de
vida atual, o gasto de combustíveis é alarmante. Os automóveis, com
capacidade para muitas pessoas, correm com um único indivíduo, que na maior
parte das vezes está se divertindo, enquanto o outro que trabalha não tem
meios de locomoção. O voraz desejo de lucro e o comércio criam necessidades de
gasolina, óleos, pneus etc. Modificassem a
sociedade, e veriam desaparecer os carros que atravancam as ruas na hora
do "rush". Não só haveria economia de combustíveis, mas de
automóveis.
O homem poderia trabalhar menos de um ano em toda a sua
vida e viver melhor que o mais rico da Terra.
Mas para a sociedade humana até o progresso é perigoso.
Evolua a cibernética, e os homens morrerão de fome devido ao desemprego.
Entretanto, até o serviço manual que hoje fazem, poderia ser executado por
cérebros eletrônicos obedientes, prestativos e incansáveis. Esses
"robôs" podiam arar, semear, lançar inseticidas, adubar, podar,
colher, beneficiar. Se vissem uma planta doente, saberiam julgar se
convinha que ela fosse tratada ou se apresentava perigo para as outras e devia
ser sacrificada. Essas máquinas atingiriam um grau de aperfeiçoamento que
automaticamente dirigiriam os veículos terrestres, sem perigo de atropelo ou acidentes, pilotariam os aviões com segurança,
comunicando à base terrestre, possíveis defeitos e tomando as medidas
de reparação em pleno voo. Mediriam o metabolismo e se comportariam como
médicos, fornecendo, inclusive, energias restauradoras.
Com muito menos do que gastam com cigarros todos os anos
acabariam com o câncer. Com um décimo do dinheiro empregado em bebidas fariam
sumir a lepra da face da terra, e a tuberculose não mais seria nomeada nas
estatísticas.
O controle da atmosfera poderia regular o clima, evitando
as catástrofes coletivas e salvando as colheitas.
Células elétricas poderiam ser colocadas nas ruas, que
absorveriam todo, o ruído cuja vibração fosse de natureza irritante.
O ensino podia ser modificado. Naturalmente, com uma
modificação fundamental, enviaria os professores
para casa, e na atual situação do mundo seria uma péssima coisa, pois essas criaturas iriam passar
sérias privações.
Hoje um indivíduo gasta o melhor da sua vida debruçado
sobre os livros, indo dos 7 aos 30 anos, e no fim vê desolado que nada aprendeu
e que muito ainda tem pela frente. A própria vida é curta para aprender.
Todavia, usando o sonambulismo com verdadeiro espírito científico, podia ser
modificado o panorama do ensino. Em algumas horas uma criança podia
aprender toda uma ciência, que atualmente demanda tempo e rouba o verdor dos
anos. E aprenderia com o máximo de
exatidão.
Bastaria que a deixássemos
cair num sono hipnótico dirigido, sob a ação de um medicamento como a canábis sativa ou a combinação de clorofórmio e morfina, aplicados em intervalos,
e um professor de psicologia lhe ditasse ao ouvido toda a matéria a ser
aprendida. Isto podia ser feito em grande escala, a milhares de alunos ao
mesmo tempo, fazendo uso de fones no ouvido dos sonâmbulos. Seria mais cômodo,
fácil, barato, não levaria tempo e não sacrificaria a criança com longas
lições, impertinências dos professores e outros inconvenientes do atual
sistema. O aluno podia ir cedo para o colégio, dormir e voltar com o pergaminho
de doutor em ciência metido no bolso.
Seria pouco o tempo para aprender? Não podia o professor
ditar-lhe, nesse prazo, toda uma matéria científica? O espírito desconhece as
relações de espaço e tempo, e para ele toda uma eternidade pode ser resumida
num segundo e um segundo transformar-se numa eternidade inteira e sem fim.
Crie-se um sistema de transmissão rápido. O pensamento humano é irradiado numa
faixa de cinco milímetros. Envie-lhe mensagens elétricas nessa faixa, em ondas
sucessivas, e toda a ciência humana poderá ser transmitida em pouco tempo.
O mesmo método devia ser empregado para dissipar as
tendências atávicas e o pendor para o crime, No sono hipnótico a mente se torna
dócil, apta para aprender e julgar o proveito das boas lições. Podiam ir mais
além e derrubar a barreira "O", que existe entre o consciente e o
inconsciente humano, e todo o conhecimento de espírito livre afloraria ao
consciente do paciente como uma bagagem presente. Entretanto, essa tentativa
requer certa técnica, que só com o tempo pode ser aprendida inteiramente, porque
há o perigo de desaparecer da mente a relação do tempo.
As penitenciárias
podiam ser esvaziadas, primeiro porque destruindo da mente humana a
tendência para o crime, não existiriam mais os malfazejos; segundo porque os
criminosos seriam reeducados pelo processo sonambúlico e reintegrados na
sociedade.
Modificada em seu arcabouço, a sociedade venceria os
prejuízos morais que tolhem os seus passos. O homem venceria a morte,
ressuscitando os seus mortos. Não haveria nem a velhice sobre a Terra.
P. — Ressuscitar os mortos como?
R. — Para vencer a morte é preciso conhecer os
fundamentos da vida. O que dá vida ao corpo é o espírito. Ora, mas este se liga àquele através de laços
magnéticos.
magnéticos.
Num solenoide, a corrente
circulando provoca o aparecimento de um campo que atrai o ferro para o interior da bobina. Todo campo necessita de um
núcleo que lhe receba as linhas de força geradas. Atraindo o ferro, o
solenoide pode ser virado de todos os lados que o núcleo não se desprende. Não
há nenhum laço visível que o prenda, mas meras linhas de força, na proporção de
algumas mil, que não se vê à vista desarmada.
O que se passa entre o ferro e o solenoide é idêntico
ao espírito e o corpo. Este é o solenoide, cuja corrente é mensurável pela
encefalografia; aquele é o núcleo de ferro atraído.
Se o campo magnético, formado pelo corpo, sofrer uma
interrupção no circuito das suas linhas de força, ou se a corrente elétrica que
o alimenta deixar de circular, o espírito se desprende. Isso é a morte.
Entretanto, se a lesão que provocou a interrupção for
sanada através de uso de aparelhagem adequada, que restabeleça o campo, o
espírito, se o chamarmos, voltará e se
unirá à matéria, caindo de novo sob o campo restabelecido. Para isso
use-se o ectoplasma humano ou vegetal, que restabelece a parte lesada.
A morte é, pois, um defeito que pode ser concertado. Eu
não digo que o homem viva eternamente, mas poderia fazê-lo ao ponto de causar
inveja a Matusalém. Este não viveu mais porque o dilúvio o consumiu, mas se o
homem fosse bom, as forças da natureza, em vez de destruí-lo, o preservariam
ainda.
Disse-lhe o que eu penso, do
ponto de vista material, mas muito mais eu poderia dizer do espiritual,
indicando-lhes caminhos que até hoje a ciência jamais sonhou. Você preferiu o
material. Cada um tem o que deseja...
